Quem é publicitário já ouviu, ou até mesmo repetiu, esta frase, que rola pelo mercado há anos: “Publicitários só se reproduzem em cativeiro”. Uma clara menção ao fato de diversos casais terem se formado dentro das agências ou em eventos para publicitários e, dessas relações, terem surgido seus filhos. Como é o caso de Andre Havt, diretor de arte da NBS, e Julia Barros, atendimento da mesma agência, cuja foto abre esta matéria.
Gustavo Bastos, sócio e diretor de criação da agência 11:21, casado há 17 anos com a também diretora de criação da Artplan, Alessandra Sadock, com quem tem dois filhos, afirma ser o autor da frase. Segundo Bastos, isso surgiu numa conversa entre ele e o diretor de arte Jorge Falsfein, casado com a redatora Andréa Lobato, após se darem conta de que ambos tiveram relacionamentos anteriores, com mulheres de outras profissões, que terminaram, enquanto os que mantinham à época — e aliás, continuam até hoje — com publicitárias seguiam firmes.
Segundo Bastos “unir a vida profissional com a pessoal facilita muito. Casais que estão na mesma profissão têm uma facilidade maior de um compreender o outro.”
Gustavo e Lelê, como ele trata carinhosamente Alessandra, se conheceram há mais de 20 anos, quando ele a contratou como sua estagiária na DPZ. “Nada rolou naquela época”, conta Alessandra, que explica: “Quatro anos depois disso, Gustavo voltou a me contratar, dessa vez para a agência dele, a BR3. Fizemos dupla. Eu era diretora de arte e ele o redator”, conta Alessandra.
Ok, ter a mesma profissão pode ser ótimo, mas e ser chefiada pelo próprio marido? As opiniões de Gustavo e Alessandra divergem. Para ele, foi maravilhoso, mas para ela “Não foi das coisas mais fáceis. Isso começou a me incomodar na época.”
Sócio de Bastos na mesma 11:21, José Guilherme Vereza é casado, há 25 anos, com Polika Teixeira, que comanda a área de operações da comunicação da Rede Globo, e concorda com a opinião de Bastos: “Só vi o lado positivo de trabalhar com a Polika. Éramos complementares, até para lidar com as discordâncias”.
Polika concorda com o marido, mas faz uma ressalva: “Foi ótimo ter o Zé como meu chefe. Trabalhamos muito bem juntos, embora hoje acho mais saudável que cada um trabalhe numa empresa diferente.”
O diretor de criação da NBS, Marcello Noronha, pensa como as mulheres dos sócios da 11:21. Ele está casado há seis anos com a redatora da WMcCann, Sabrina Villar, com quem tem a pequena Mia de apenas dois meses de idade. O casal se conheceu há 14 anos e está junto há nove.
“Foi bem difícil quando começamos a nos relacionar e trabalhávamos juntos. Eu não podia interceder a favor dela. Não podia nem ser justo com ela”, relembra Noronha, que apesar de admirar a mulher desde o início do contato profissional, precisou, em diversas ocasiões, “ficar no meio do caminho, não interferir”. Sabrina começou como estagiária, se tornou redatora e, nesse tempo, Noronha era supervisor de criação e, depois, diretor de criação. Segundo ele, as reações ao então novo casal variavam: “Teve de tudo, para o bem e para o mal, mas soubemos lidar com isso.”
Sabrina encarou bem todo o processo: “Apesar de ele ter sido muito durão comigo no início e feito o tipo ‘malvado favorito’, o Noronha foi um dos meus melhores diretores de criação! E eu adoraria trabalhar novamente com ele!”
Charles Nobili, RTVC da FCB Brasil, e Anna Claudia Sant’Anna, atendimento da mesma agência, que se conheceram há 14 anos e estão casados há 11, não tiveram a mesma experiência dos três casais, mas têm opiniões discordantes entre eles. Para Nobili, trabalhar na mesma agência que Anna “Nunca foi difícil, ao contrário, é até bom. Agora, ser chefe deve ser f…!”
Para Anna foi diferente: “No começo, eu tinha medo de ser vista apenas como a mulher do Charles”. Hoje, mais segura, garante que cobra, briga e reclama com ele “como faria com qualquer outro RTV.”
Pontos comuns para dar certo
Dois pontos são comuns aos cinco casais que a Janela escolheu para entrevistar entre os muitos conhecidos do mercado publicitário. O primeiro: todos se consideram “easy going” – têm personalidade afável, são descontraídos, despreocupados e não levam tudo a ferro e fogo. O segundo é a admiração, uma ótima alternativa para não rolar competição entre eles.
Sempre tive a maior admiração pelo Noronha.—Sabrina Villar
“A admiração foi o meu primeiro sentimento pelo Zé. Foi arrebatador, eu estava completamente apaixonada!”, relembra Polika Teixeira, que tem duas filhas com Vereza.
Sentimento idêntico ao de Sabrina Villar: “Sempre tive a maior admiração pelo Noronha e, até hoje, fico extremamente feliz por cada prêmio que ele conquista – como recentemente, quando ele levou o Prêmio Colunistas Rio 2016 como Profissional de Propaganda do ano”, relembra. Sem saber o que a mulher dissera à Janela, Noronha se derreteu: “Sempre a admirei. Sou o primeiro fã dela! Quando a Sabrina ganha um prêmio é melhor até do que se fosse para mim!”
Andre Havt e Julia Barros — que trabalham na mesma agência, a NBS, se conhecem desde 2004, estão casados há 11 anos e têm juntos dois filhos — encontraram até mesmo uma “fórmula” para evitar desgastes decorrentes do trabalho que pudessem respingar na admiração mútua: “Combinamos não levar o lado profissional para casa”, conta Julia:
“Então, quando rola alguma dificuldade e eu preciso cobrar dele por conta de algum cliente mais difícil, deixo para falar na última hora, quase na hora de sair do trabalho. A situação é resolvida no dia seguinte, sem qualquer desgaste profissional ou pessoal”.
Havt confirma e lembra de outra maneira encontrada pelo casal para fugir de conflitos: “Tentamos não levar o trabalho para casa, a não ser coisas mais graves. Quando precisamos resolver algo profissional em que ambos estão envolvidos, escalamos um “mediador” entre a criação e o atendimento. Tem dado certo até hoje”, brinca o criativo.
Para os cinco casais, trabalhar juntos tem pontos positivos, como o que ressalta Sabrina Villar: “Conhecer todos que trabalham no mercado evita rolar ciúmes, o que torna tudo mais fácil”.Dois outros pontos levantados por eles foram a compreensão com os horários incertos e comungar da mesma rotina. Já o lado negativo – que muitos nem veem -, citado por Charles Nobili, é justamente a linha tênue que separa o profissional do pessoal e que precisa ser observada para não prejudicar nenhum dos dois aspectos da vida do casal.
O que poderia ser mais complicado, na verdade, é encarado por todos os casais com absoluta clareza e tranquilidade: “Coisas que não podem ser faladas são respeitadas”, garante Charles, se referindo aos segredos internos, de departamentos ou até mesmo entre agências – quando casais estão em lados opostos na disputa por um novo cliente. A mulher de Nobili, Anna, assina embaixo: “Isso para mim é transparente, não pode falar, não se fala.”
Eu e Júlia já guardamos segredos profissionais um do outro”.—André Havt
Gustavo Bastos e Alessandra Sadock concordam: “Numa mesma concorrência a gente não comenta, e sem drama, porque já nos acostumamos com isso”, garante Alessandra. Para Marcello Noronha, ele e a mulher entendem “a mudez necessária sobre concorrências, não comentamos com o outro”, com o que concorda seu companheiro de NBS, Andre Havt: “Eu e Julia já guardamos segredos profissionais um do outro várias vezes. E ainda assim temos uma relação de muita confiança e de muito amor.”
O assunto desperta tantas reações que, segundo Anna Claudia Sant’Anna, em papo com o presidente da FCB Brasil, Aurélio Lopes, descobriu que ele mesmo, no início, se preocupou sobre como funcionaria a relação dela e de Nobili. Com o tempo, veio a resposta, não só o casal seguiu sem qualquer problema, como outros casais também se formaram na mesma FCB, igualmente sem saias justas.
Na NBS não é diferente, aliás, de acordo com Julia Barros, “a agência é uma casamenteira!”, brinca, se referindo ao fato de outros casais terem se formado por lá. Como ela e Havt, que, depois de terminar três vezes com Julia, a convidou para um jantar onde apareceu com aliança e pedido de casamento – para o qual, aliás, o casal convidou a NBS inteira, ainda bem menor à época.
Então, você que acaba de ler essa matéria, faz parte do mercado e ainda está à solta na pista, olhos bem abertos para encontrar o seu par e ser mais um nessa estatística tão bem corroborada por esses cinco casais de publicitários e pelo depoimento de José Guilherme Vereza: “Agradeço à propaganda que me apresentou à Polika, além dos muitos amigos que fiz. Ganhei com ela, acima de tudo, um projeto de vida.”
Delícia de matéria. Grandes amigos e profissionais
Adorável matéria!